Quem cuida também precisa de cuidados
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Quem cuida também precisa de cuidados

Quem cuida também precisa de cuidados

Por Alex Valadares da Cruz e Ana Carolina Duarte Valadares

O que é o cuidar? Ao longo da história testemunhamos pessoas que trabalharam pelos mais fragilizados e sofridos. Pessoas que colocaram suas capacidades e dons a serviço dos outros. Acompanhamos aqueles que ao se preocuparem com os outros, descobriram a vocação do cuidar. O cuidado acompanha o ser humano desde o nascimento, a mãe que cuida do bebê, o pai, o médico, a enfermeira.  O religioso que entrega sua vida ao cuidado do povo a ele confiado. O professor que, com dedicação, oferece formação humana e intelectual. Temos muitos exemplos: como não se lembrar de Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Dr. Viktor Frankl e Dr. Giuseppe Moscati, pessoas que deixaram seu legado, personalidades que de alguma forma, marcaram a humanidade com seu cuidado.

Muitos jovens se sentem inspirados pelos trabalhos das organizações Médicos Sem Fronteiras e da Cruz Vermelha, sentem-se motivados pelo exemplo vivido na Fazenda da Esperança, que cuida de quem não consegue cuidar de si por causa do vício. Mas podemos dizer que os maiores cuidadores são anônimos. É o extraordinário vivido no ordinário, com os milhões de cuidadores espalhados pelo mundo que, em silêncio, exercem o cuidado diariamente. Pessoas que podem não ter escolhido em sua profissão o exercício do cuidado, mas que em suas casas oferecem com todo amor e zelo.

Podemos compreender o cuidador como aquele cuja missão envolve o cuidado de outras pessoas. Por assumir um papel que o distância do autocuidado, ou para o qual geralmente não está preparado, o cuidador pode sofrer com a sobrecarga de trabalho e, por vezes, tem sua qualidade de vida comprometida. Percebemos que essas boas pessoas têm pontos em comum: a boa vontade e o sentido encontrado no serviço, mas também o cansaço, a dificuldade em pedir ajuda para si e a falta de dedicação ao cuidado de si mesmo. Notamos cada vez mais que a exaustão profissional (burnout[1]) tem sido presente na vida dos cuidadores. Esses estão se encontrando em um cansaço onde as perdas das forças físicas se alinham a perda de sentido naquilo que é feito. O cuidar perpassa o conceito de qualidade de vida, tanto no que diz respeito a cuidar de si quanto a cuidar de outros. Os problemas de saúde do cuidador, em muitos casos, estão relacionados à tensão emocional, e ao cansaço físico e mental contínuos. O esforço incessante somado a má gestão das atividades de trabalho e de seu tempo, culminam em uma exaustão tendo prejuízo físico, mental e relacional. No fim o cuidador não consegue exercer sua missão por ter se consumido na mesma. Almada (2013) nos ajuda a compreender bem o mecanismo desse esgotamento:

O que fundamentalmente se produziu foi um esgotamento dos recursos psicológicos dessas pessoas para enfrentar as exigências do trabalho de assistência a terceiros. Eles perderam o sentido existencial de sua vocação inicial por causa do desequilíbrio prolongado entre o sentido da tarefa realizada e a realidade objetiva do fracasso. (ALMADA, 2013, p. 27)

Por tudo isso, compreendemos a importância do cuidar de quem cuida, fazendo com que o cuidador continue oferecendo seus dons àqueles que necessitam de sua presença.

Portanto, convido os cuidadores para mudar a direção que estão seguindo na vida e viver o autocuidado.

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[1] O termo Burnout, derivado do inglês “to burn out”(queimar-se, consumir-se) foi desenvolvido por Freunderberger (1974), que o caracterizou como sendo um sentimento de fracasso e exaustão causados por um excessivo desgaste de energia e de recursos. Sucessivamente Christina Maslach, abordou a sindrome na pespectiva de um stress intenso e contínuo provocado pelo trabalho.

Segundo Maslach (2001), a Síndrome de Burnout estaria composta por três dimensões:

1) O cansaço emocional ou esgotamento emocional: Refere-se às sensações de sobre esforço e fastio emocional que se produz como consequência das continuas interações que os trabalhadores devem manter com os clientes e entre eles.

2) A despersonalização: Supõe o desenvolvimento de atitudes cínicas frente às pessoas a quem os trabalhadores prestam serviços.

3) Reduzida realização pessoal: Também levaria à perda de confiança na realização pessoal e à presença de um auto-conceito negativo. O esgotamento emocional representa a dimensão de tensão básica da Síndrome de Burnout; a despersonalização expressa o contexto interpessoal onde se desenvolve o trabalho do sujeito, e a diminuição das conquistas pessoais, representa a auto-avaliação que o indivíduo realiza de seu desempenho ocupacional e pessoal (Maslach, Schaufeli, & Leiter, 2001).