UMA CONVERSA FRANCA SOBRE SUCESSO
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UMA CONVERSA FRANCA SOBRE SUCESSO

UMA CONVERSA FRANCA SOBRE SUCESSO

Por Value Creator – Business Strategist – CEO – Board Member e o Professor Adriano Maluf Amui.

Sucesso?

Escrevo este artigo em um momento particularmente complexo para todos nós. Neste minuto acreditamos que estamos saindo de uma pandemia que perdura por mais de dois anos, entremeada por transformações inimagináveis, por questões globais e outras locais criando uma teia de complexidades, e em meio a uma guerra em curso com potencial a se expandir globalmente.

Seria de enorme ingenuidade dizer que nós não somos afetados direta e indiretamente por estes aspectos, em nossa vida, carreira, convicções e mesmo quanto a nossa autoconfiança em viver diante deste cenário caótico. Todos os sentimentos gerados por esta reflexão me fazem pensar muito sobre o significado de sucesso. E é sobre isto que quero conversar aqui com você.

E de imediato quero delimitar o meu objetivo neste artigo contando que não é o de lhe fornecer uma resposta precisa e sim propor uma estrutura e questionamentos que se genuinamente analisados por você em consonância a seus valores, o levarão a encontrar a resposta mais adequada à sua perspectiva sobre sucesso.

Proponho que você reflita sobre estes pontos:

  1.  O que é sucesso para mim? Obtive sucesso até aqui? Tenho uma rota planejada para alcançar o sucesso que defini?
  2.  Refaça a reflexão anterior colocando duas lentes:
  • Sua vida pessoal e familiar
  • Sua carreira

Ampliando a questão e uma primeira autocrítica.

Cresça. Estude. Capacite-se mais. Dê tudo de si. Empreenda. Inove. Tenha sucesso!

Estas são apenas algumas das diretrizes que sempre ouvimos quando o assunto é sucesso.

Mas afinal de contas, qual o significado de tudo isso? Na verdade, a pergunta a ser feita é: por que somente isto?

Comecei por este aspecto porque talvez este seja o campo em que mais me desafiei durante a vida. Me formei e eduquei de uma forma desequilibrada em que expressava que a carreira e o trabalho eram apenas um meio, entretanto quando analisados sob a ótica das minhas ações eram o aspecto de maior intensidade em minha vida.

Lógico que sempre me policiei para buscar o equilíbrio, e estar intensamente mais próximo do mais importante, a minha família. Mas precisei passar por uma pandemia para concretizar que minhas ações estavam em total dissonância ao meu plano e visão.

Assim como em todo processo de gestão de mudança, passei pelos sentimentos de surpresa, revolta, resignação e aceitação. E isto me ajudou a ser uma pessoa melhor e mais alinhada a minhas convicções.

A partir disto, criei um mantra que repito diariamente em meu trabalho:

Um bom plano sem uma execução poderosa não passa de um sonho inocente.

Ótica do Planejamento Estratégico e do Propósito

De uma forma ou outra, cada um de nós já participou ou tem noções a respeito de um exercício de planejamento estratégico. Diante desta premissa cabe a mim objetivamente perguntar: por qual razão reservamos tempo e horas extras para planos ligados à nossa empresa ou emprego, e relutamos em fazer o mesmo no tocante a nossa vida?

Muitas pessoas me provocam com a seguinte colocação: Vou planejar na hora certa. Neste momento estou focado em produzir e sobreviver.

Respeito profundamente o sentimento intrínseco a esta colocação, entretanto sob a lente da razão e do planejamento, ele oferece um risco muito grande para ser desprezado.

Para elucidar este ponto, te convido a pensar:

Quando será o momento certo?

O que te faz acreditar que futuramente terá mais tempo para isto?

Se deixar mais a frente qual será a sua capacidade de implementação?

Tenho aqui minha mais absoluta convicção de que o planejamento de nossa vida deveria ter sido feito ontem, e na pior das hipóteses agora.

Espero que compreendam a ênfase que coloco aqui e acreditem: a vida, suas urgências, prioridades, consequências, fatos inimagináveis, somente aumentam com o decorrer do tempo e consequentemente nos deixam com baixa margem de manobra para os ajustes de rota necessários.

Para este planejamento, que chamarei doravante de “roadmap’ para uma maior conexão com termos do planejamento estratégico, devemos iniciar com uma clara definição de propósito. E esta talvez seja o componente mais complexo deste exercício de planejar pois delimita sua razão de viver, suas fronteiras, seu foco, sua essência. E o exercício de monitorar a execução deste propósito passa a ser nossa mais relevante atividade de governança pessoal.

Eu por exemplo, decidi cedo na vida que meu propósito seria:

a) Constituir uma família calcada na verdade, no amor, no profundo respeito às individualidades, no pensamento crítico e construtivo, na educação, em valores éticos soberanos e um profundo senso de comunidade e respeito ao mundo, meio ambiente e suas pessoas;

b) Profissionalmente me propus a três aspectos: gerar valor, gerar conhecimento e ser livre.

Quando reflito sobre a jornada que vivi até aqui, sinto que apesar do desequilíbrio que me impus a favor de aspectos profissionais em distintos momentos, sob a ótica do longo prazo estou muito feliz com o que consegui obter no tocante a ambos os aspectos. Voltarei a esta análise mais a frente.

Recursos limitados, priorização e foco.

Para dar maior realidade ao que estou dizendo, preciso lembrar-lhe que, como sabemos no meio empresarial, na vida também os recursos são limitados. Principalmente tempo e dinheiro. 

Logo, a definição de um propósito claro nos ajuda a entender exatamente o que queremos, mas também nos diz exatamente o que não teremos, e este aspecto necessita de particular atenção pois requer muito foco e abnegação para lidar com vontades irracionais, aparentes oportunidades, propostas de rotas mais curtas, nosso ego e assim por diante.

Logo outra palavra-chave que surge aqui é: Priorização.

Particularizando um pouco: o aspecto ser livre que menciono em meu propósito acima se tornou minha guia quando meu cérebro me fazia repensar decisões, me angustiava com comparações. Deixei uma bem-sucedida carreira executiva de 15 anos em companhias excepcionais e repleta de benefícios corporativos por uma nova carreira como empreendedor e professor. A primeiro como meio de subsistência e de autorrealização, e a segunda como forma de devolver à sociedade muito do que aprendo.

Parece uma equação perfeita… mas não foi assim que senti muitas vezes.

Sendo simplista para ser didático, trocar um voo em classe executiva por longas jornadas em econômica nas viagens a trabalho foi um dos primeiros impactos egocêntricos que colocou minhas convicções à prova. Trocar um expatriamento como executivo de multinacional por um auto-expatriamento é um outro exemplo. Ter um cartão de visitas sem a força protetora de uma grande companhia me trouxe insegurança.

Mas hoje, mais de quinze anos depois desta decisão, posso afirmar que o propósito de ser livre me fez forte e me fez chegar até aqui

Delimite sua própria linha de chegada, ambiguidade e foco.

As escolhas que fazemos hoje sobre como empregamos nosso tempo e a nossa vontade, determinam profundamente como nossas vidas serão transformadas. É comum termos essa necessidade de conquista, de cruzar linhas de chegada e nossas carreiras fornecem de forma mais concreta essa sensação de avanço.

No entanto, ao pensar sobre os momentos inesquecíveis que vivi, a maioria aconteceu em ocasiões cotidianas com minha esposa, quando ajudei meu filho mais velho a se preparar e mudar para a Universidade, nos jogos de futebol do meu filho mais novo, ou quando eu estava falando no telefone com meus pais e avós.

Escrevi esta menção pessoal pois temos a tendência de alocar cada vez menos recursos para as coisas que, no fim da vida, consideraremos mais importantes. Superestimamos as mais de 40 horas de trabalho semanais e deixamos de contribuir com a criação de laços duradouros, de tecer relações gratificantes e de contribuir com nossa comunidade.

Não posso deixar de lembrar que causa raiz de falhas fenomenais nas empresas e planos pessoais está na natural pré-disposição para a imediata conquista de algo desejado versus conquistar o grande prêmio um pouco mais a frente.

Talvez aqui resida um pouco da razão pelas quais pessoas se distanciam de suas famílias em troca do trabalho, que costuma trazer recompensas tangíveis em curto prazo, em detrimento do objetivo maior que se constrói dia a dia, mas se colhe no futuro.

Este aspecto também explica a motivação que leva pessoas até então corretas a cometerem falhas éticas e morais. Por estas razões, jamais me esqueço de uma frase cunhada pelo Professor Clayton Christensen: “É mais fácil honrar seus princípios 100% do tempo do que em 98% do tempo.”

Enfim… Como medir o sucesso? Como saber se estou no caminho certo?

Um propósito leva a um planejamento de vida, que determina inciativas chave, milestones, objetivos e expectativas. Tenho convicção de que seus propósitos não deverão sofrer mudanças drásticas no decurso de sua vida, e por outro lado, certamente seu plano sofrerá ajustes, inúmeros. E assim será a tortuosa, mas bela jornada rumo ao que consideramos pessoalmente o sucesso. Mas como medir isto? Como saber se estou no caminho certo?

Esta é uma resposta individual pois tem muito a ver com as expectativas e formas distintas de se enxergar a vida e realizações.

Já fui mais pragmático neste sentido.

Usei métricas como tempo entre etapas de promoção no emprego, remuneração anual, bônus, número de clientes, número de negócios bem-sucedidos que criei, rentabilidade, patrimônio, e tudo mais que você possa imaginar.

Até que um dia passei a compreender e medir o sucesso de forma vinculada a meu propósito, e por mais básico que seja foi um aprendizado libertador pois desta maneira noto profunda conexão com os primeiros indicadores que mencionei. Esclareço aqui: a métrica que utilizo para determinar meu sucesso é simples e objetiva:

A soma do sucesso obtido pelas pessoas com quem convivo. Ou seja, se gero valor para alguém, gero valor para mim também, como em um ciclo virtuoso.

Desta forma, o sucesso de meus filhos significa um pouco do meu sucesso também. O dos meus negócios idem. O sucesso de um colaborador também. De uma empresa cliente certamente também. O sucesso de um aluno se soma a meu sucesso.

E desta maneira me sinto integro, sem uma visão unicamente capitalista, e sim com um perfeito modelo de métrica vinculada intimamente a meu propósito de vida e que se retroalimenta.

Portanto, sucesso para mim é viver a jornada rumo ao meu propósito de vida, seja lá qual for ele. Nada de conceitos impostos, tampouco fruto do pensamento vigente em dado momento. Propósito é algo pelo qual se vive uma vida. Mas também é algo que te liberta pois delimita quem você não será. É o porto seguro onde você busca se recompor nos momentos mais difíceis. Mas também é tudo sobre comemorar cada conquista neste caminho pois não custa nada lembrar que a beleza da vida está em viver a jornada da maneira mais fiel possível a seus valores.